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Para Comer Rezando

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Para comer rezando

Por Jane Mary Guimarães

Doce deleite…

Dos grandes luxos que temos na vida, poucos se equiparam aos inigualáveis sabores da infância. Guardados na memória – lá, naquele lugar especial onde as estórias e os amores se enroscam na literatura da vida –, esses pequenos tesouros se reúnem no capítulo essencial da existência. Ali guardamos o tempero da mãe, a receita da avó, o gostinho do doce comprado no bar da esquina, a vitrine da padaria recheada de sonhos, o sorvete vendido no carrinho…

Nada – ouso dizer – nada é tão rico e seu quanto as memórias que envolvem os sabores provados (e, muitos, desbravados!) durante aqueles primeiros anos. Alguns jamais serão provados novamente (como aquele bolo de canela de Natal, feito pela avó amada que já se foi), mas outros, nos dão a honra de continuar a vivenciar a mágica daquele tempo, em que no céu de nossas bocas havia uma explosão de estrelas de açúcar.

Na cidade onde cresci, um gostinho muito especial sobrevive às receitas e doces da moda. É ele que me faz desafiar os amigos mineiros e argentinos que recebo em casa, em Campinas, ao servir – de peito estufado de orgulho – aquele doce de leite que só existe em Avaré/SP há quase um século. O famoso “pingo de leite”, como é conhecido, nunca – mas nunca mesmo – decepciona, agradando inclusive os mais incrédulos e avessos a doces. Uma fina camada crocante de doce de leite açucarado derrete na boca rapidamente enquanto revela um recheio em textura “puxa”. Se felicidade tem tamanho, creio que os pouco mais de cinco centímetros do tabletinho representam a medida certa dos momentos felizes.

Embora a história da receita seja bem mais antiga e cheia de causos (coisa que toda boa estância turística adora), a fábrica Gotas de Leite é detentora da receita do pingo que tornou a cidade conhecida em todo o Brasil. Desde 1998 tem sede em um bairro fora da região central e oferece outras versões do doce de leite como pastoso, chup-chup e tabletes macios. Embora os alérgicos à lactose não possam apreciar a iguaria, uma grande vantagem aos alérgicos a glúten é que o doce de leite produzido é totalmente livre dessa proteína, incluindo uma versão diet para quem tem restrições ao consumo de açúcar. A fábrica é um laticínio que se orgulha de fazer a própria captação e preparação do leite, participando do desenvolvimento da pecuária leiteira da região. Comercializa a lenha que alimenta as caldeiras de fornecedores devidamente cadastrados, que fornecem madeira de reflorestamento, garantindo a sustentabilidade do ecossistema. A maior parte da produção de doces está destinada a São Paulo, capital e interior*.

O que faz dele tão especial para mim é que toda vez que provo, sinto o mesmo deleite de quando o provei pela primeira vez. Lembro-me como se fosse hoje. Desembrulhar com as mãos pequeninas aquela preciosidade, oferecida por meu pai, que por alguma razão também dizia orgulhamente: “Esse doce é feito aqui na região”. Talvez a mágica tenha sido feita ali. E definitivamente ganhou meu coração, ocupando minhas melhores memórias, aguçando percepções gastronômicas. Ver os amigos se entregarem ao mesmo deleite ao provarem o “pingo” pela primeira vez é como entregar a eles um sorriso embrulhadinho, especial, feliz. E repito ao mesmo tempo a frase de meu pai, mudando um pouquinho para “esse doce é feito lá, de onde eu vim”.

O doce de leite Avaré é definitivamente um dos grandes sabores da minha vida. Nas visitas à terrinha – tão escassas – a ida à fábrica está sempre em minha programação e sempre há um potinho esperando por mim na casa das irmãs e sogra queridas. Acredito realmente que os sabores que guardamos na memória dizem muito sobre quem somos e consigo conhecer alguém a fundo só pelo modo de se expressar ao lembrar-se de um ingrediente da infância. Quem tem um gostinho bom para lembrar não envelhece, não sai avesso, não passa frio emocional.

Aquele doce querido da infância é o que muitas vezes nos liga a momentos que se perderam na história da vida, que uniram pessoas a um único e fugaz acontecimento. Aquele que faz a alma transbordar ao ser acessada pelo aroma, que ativa a lembrança enchendo o peito de carinho. Em minha memória, o sabor do pingo é tão vivo que talvez seja o maior motivo que eu tenha para, quem sabe, um dia, envelhecer na terra da qual estou longe. De preferência, em uma casinha bem pertinho da fábrica, ali na rua Jango Pires.

 

Jane Mary Guimarães é ‘escrevedora’ com o pé na cozinha, mulher do chef, cozinheira à brasileira, tia orgulhosa, irmã encrenqueira e petisqueira das melhores coisas da vida. Para alegria de nós leitores de bons conteúdos, passa a assinar uma coluna especial no Blog Senhora Mesa! Bem vinda! 

Para Comer Rezando 1

*Fonte: Institucional Gotas de Leite – gotasdeleite.com.br

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