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Conheça a História da Última Fazenda de Lyon, na França

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Revista Senhora Mesa

A Última Fazenda de Lyon 

Em sua última viagem, Bruno Chamochumbi conhece a última fazenda com agricultura familiar que ainda cultiva alimentos em Lyon, na França.

A França é realmente um lugar surpreendente, especialmente quando o assunto é gastronomia. Em maio passado, fomos conhecer a casa nova de minha cunhada Daniela, no bonito bairro de Saint Rambert, em Lyon.

Em uma caminhada para reconhecer o bairro, me deparei com algo absolutamente incrível: a última das fazendas da cidade que conta com mais de um milhão de habitantes. Eu não poderia deixar de relatar esta descoberta. E que descoberta! Uma fazenda que preserva as características de 1896, quando os antepassados de Louis Pierre Perroud faziam parte de um conglomerado com mais 19 fazendas  na região. Hoje ele, que é da 4ª geração da família no negócio, cuida de produzir frutas, verduras e legumes na propriedade.

O fato é que o mundo mudou, as formas de alimentação mudaram, mas esta fazenda resistiu. As outras 19 foram vendidas nos anos 80 para a construção de prédios e expansão da cidade.

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No começo a área da fazenda não fazia parte da cidade de Lyon, o que veio a acontecer em 1963, um ano após o nascimento de Perroud. A variedade produzida na fazenda também mudou.

Ele se lembra de que quando o negócio era gerido pelos pais e avós, contava com quatro vacas leiteiras, vinha, trigo para galinhas e feno para o gado. Mas, quantas pessoas hoje têm uma vaca em casa? Uma galinha, observa ele, pode até ser – como é o caso da vizinha de minha cunhada, que tem cinco filhos –, mas assim mesmo o volume da produção não mantém vivo o negócio de nenhum produtor. De 13 hectares de terras cultiváveis, seis estão na grande Lyon. Tem mais terras em Sansier e Saint Diedn, que já não fazem parte da região.

Hoje a fazenda oferece cerca de 60 produtos diferentes durante o ano. Apesar de não ter o selo orgânico, Perroud pratica o que na França é chamada de agricultura razoável. Ele tem ovos, frutas como maçãs, peras, morangos, cerejas, pêssegos e damascos. E tem legumes como abobrinha, berinjela, alho-porró, berinjela, abobrinha, cenoura, cebola, batata, e mais ervilhas. Além da sua produção, tem parceiros especiais de laticínios, que fazem queijos deliciosos e de muitas variedades.

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Tudo o que é vendido, exceto os laticínios, é produzido por ele, com a ajuda de apenas um funcionário e meio. Isso mesmo! O custo da mão-de-obra no país é tão alto que um deles atua somente em meio período. Imagine uma produção deste tamanho tocada por um grupo tão pequeno?

Ele reconheceu que o trabalho é colossal. Tanto que, em 1984, quando assumiu o negócio no lugar dos pais e do tio que decidiram se aposentar, pensou primeiro num sócio antes de contratar funcionários. Chegou a procurar a maison de agricultura de Lyon, uma espécie de secretaria local, onde encontrou interessados. Mas quase na hora de fechar o negócio, recebia uma justificativa unânime para a desistência: “O trabalho é muito difícil”. Ele faz questão de frisar que apesar de ser um negócio familiar, teve que estudar agricultura.

Pergunto sobre o futuro do negócio, ele titubeia por alguns segundos e não consegue fugir do previsto: “Não sei” é a resposta mais rápida. Ele não tem filhos e o enteado trabalhou pouco tempo sem se interessar pela propriedade.

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Ele acredita que a sobrevivência da fazenda até hoje, vendendo seus produtos aos bairros vizinhos, tem a ver com a confiança das pessoas em seu nome e na sua forma de trabalhar. Ainda mais que a França vem se deparando com grandes escândalos alimentares, a exemplo de outros locais da Europa, como a contaminação de alimentos e o uso indevido da carne de cavalo, entre outros.

Para ele, a mudança do mundo foi muito grande desde 1984. Mas ele afirma que nunca viu uma Primavera tão diferente como esta, em que a temperatura está tão diferente. A safra do Outono e o estoque já tinham quase acabado na minha visita, por conta do frio que atipicamente continuou, a evolução natural da produção também foi prejudicada.

Me despedi dele com a certeza de que, sendo raro, ele é uma das pessoas que mesmo não sabendo, fazem do mundo um lugar mais feliz para se viver.

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